Dez anos de cirurgia robótica em Urologia no Brasil: onde estamos e para onde vamos?
Marcos Tobias Machado, formado em Medicina pela
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo,
é Urologista do ICAVC – São Paulo, SP.
Contato: tobias-machado@uol.com.br
A cirurgia laparoscópica assistida por robô, ou simplesmente cirurgia robótica, é o mais atual avanço na área da cirurgia e permitiu uma significativa redução da agressividade do trauma cirúrgico, com menor sangramento, mais rápida recuperação pós-operatória e melhor recuperação funcional com equivalência à cirurgia convencional, quando se considera a cura do câncer. A Urologia foi a especialidade que primeiro comprovou a utilidade desta tecnologia para várias indicações, mais comumente para cirurgias da próstata e do rim. Hoje, nos EUA, onde os robôs cirúrgicos são amplamente disponíveis, mais de 90% das cirurgias para o tratamento do câncer de próstata são realizados utilizando a técnica robótica.
Neste ano completamos 10 anos dos primeiros procedimentos cirúrgicos utilizando a tecnologia robótica no Brasil. Naquela época, tínhamos 2 sistemas robóticos em hospitais privados de ponta em São Paulo, havia poucos cirurgiões brasileiros treinados com experiencia, e a cirurgia era acessível a uma pequena parcela da população que podia arcar com os custos do tratamento totalmente privado. Além disso, nesta fase inicial os nossos cirurgiões foram treinados por proctors (instrutores) provenientes de outros países.
Ainda que numa velocidade bem mais lenta do que nos EUA e Europa, algum avanço foi possível de se constatar no Brasil ao longo destes 10 anos.
Existem hoje cerca de 25 sistemas robóticos em funcionamento, a maioria nas capitais dos estados da região sudeste, mas também nas regiões Sul, Nordeste e Norte do país, sendo que quatro destes robôs estão em hospitais públicos brasileiros. Esta proliferação no número de sistemas implantados em boa parte ocorreu devido a concorrência entre hospitais privados, o que gerou um maior número de aparelhos adquiridos. Estima-se hoje que o sistema robótico Si, o mais moderno no mercado, esteja avaliado em US$ 2 milhões.
Uma outra realidade que passou a ser real foi uma maior disponibilidade do emprego da tecnologia em pacientes com planos de saúde. Ainda que seja para uma porcentagem pequena e privilegiada da população brasileira, o número de cirurgias assistidas por robô em Urologia aumentou significativamente. Para pacientes com planos de saúde que atendem em hospitais privados, o paciente paga apenas uma taxa de uso do aparelho (que varia de R$ 5 a R$ 15 mil) e pode ser operado com a mais nova tecnologia desenvolvida.
Como a empresa que vende os sistemas inclui o treinamento dos médicos, estima-se que hoje existam mais de 100 urologistas com certificação para cirurgia robótica, o que ainda é absolutamente insuficiente considerando-se o numero de urologistas do pais. Mesmo assim, já não necessitamos mais de proctors de outros países, com vários colegas com experiência significativa e com grande vocação para ensinar.
Apesar de uma esperança de que o custo da tecnologia reduzisse, o que ocorreu foi exatamente o fenômeno igual ao dos celulares, ou seja, sempre sai uma atualização que é mais cara do que a anterior. Este problema somente será minimizado quando houver outra empresa concorrente no mercado que permita uma briga mercadológica com redução de preços.
Quanto às unidades em hospitais públicos que foram adquiridas com projetos por verbas especiais, atendem a um numero muito pequeno de pacientes, a maioria participantes de protocolos de pesquisa, e que não representa de maneira importante o que ocorre na maior parte do Brasil.
Este é mais um exemplo da desigualdade do que se oferece para ricos e pobres neste país.
O futuro virá e trará a aprovação da cirurgia robótica no rol de procedimentos da ANS, um custo mais baixo dos aparelhos e dos insumos utilizados, um maior número de médicos treinados no nosso próprio país prontos para operar o sistema e um maior numero de sistemas nos nossos hospitais públicos beneficiando universalmente a nossa população.
Isso já ocorreu com uma série de outros exemplos na medicina, como os aparelhos de anestesia e de terapia intensiva, cujo beneficio clinico mostrou custo efetivo no tempo. Com a constante instabilidade econômica e política do país, só fica difícil prever exatamente quando chegaremos lá.
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